Escovinha

Manhã de terça, 06h17, temperatura de dentro do avião.

Café da manhã: Só um café com leite. Não consigo comer o lanchinho do avião.
Almoço: (ontem) Uma Parrillada argentina na Colômbia.
Jantar: Uma massa, provavelmente tortellini, quase sem molho algum.
Na madrugada: O jantar foi servido nessa hora durante o vôo.
O que ouço: Djavan no fone de ouvido. As turbinas do avião no ambiente.

Nem ele sabe ao certo o porquê disso. Em meio ao caos habitual de seu trabalho, só há uma válvula de escape. Ele se separa do grupo de colegas. Abre a bolsa, e lá está em sua mão o instrumento terapêutico. Não, ele não fuma.

Em rápidos movimentos, todo o stress é descarregado na escova de dentes. Há uma forma correta de utilização. Cerdas voltadas para baixo, permitindo que elas toquem a palma da mão, cabo virado pra cima.

Ele chacoalha a escova. O semelhante ali próximo traga um cigarro.

Certa vez, novamente em meio a um turbilhão de tarefas, o agito da escova se fazia tão rápido que ela se quebrou. Desespero. Reação idêntica a um bebê que acabara de ver sua chupeta se perder no bueiro.

Ao invés de chorar, ele entra em parafusos. Vai quebrar o quarto do hotel.

Como uma dádiva divina, eis que o amigo ao lado lhe cede a sua escova de dentes. Pronto. O dormitório está intacto. O amigo, aliviado, ficará com mau hálito. E não terá que bancar com o quase estrago.

Temível Altura

Noite de domingo, 20h06 (horário de Bogotá), um leve frio colombiano de 16 graus

Café da manhã
: Huevos revueltos.
Almoço
: Un perro caliente más algunas cositas.
Jantar: (ontem) No Friday´s, um baita filé com manteiga de cogumelos.
Na madrugada
: Nada.
O que ouço
: Cabos e mais cabos sendo recolhidos no estádio "El Campin"

Nem Kaká, nem Ronaldinho Gaúcho, muito menos Robinho. O personagem do empate por 0x0 entre Brasil e Colômbia neste domingo foi a tal da altitude. Aqui em Bogotá são 2.630 metros acima do nível do mar e é sabido que o ar rarefeito altera a forma de jogo, a velocidade da bola e, em alguns casos, o organismo de um jogador de futebol.

Apática, a seleção encontrou nesse fator a principal justificativa para a pouca produtividade.



"Não gosto de dar desculpas, mas sem dúvida a altitude atrapalhou muito nosso desempenho"
. Kaká


Referendando a opinião de Kaka, o auxiliar técnico da seleção, Jorginho lembrou que os jogadores brasileiros costumam se abalar quando sabem que vão jogar nas alturas.


"Eu, quando era jogador, nunca senti. Mas sei que alguns sentem. É preciso levar em conta o desgaste da viagem, o campo pesado".



Tanto Jorginho, como Kaká, acreditam em um melhor desempenho do Brasil, nesta quarta-feira, na partida contra o Equador no Maracanã. Sem problemas médicos no elenco, o técnico Dunga, a princípio, deve repetir a escalação do time.

Conrado Giulietti, Bogotá/Colômbia, Eldorado/ESPN.
* Texto do boletim pós Colômbia 0x0 Brasil. Matéria veiculada no Jornal Eldorado primeira edição.

Ele e o Mar

Noite de sexta, 22h21 (horário de Bogotá), um frio colombiano de 13 graus

Café da manhã
: Suco de laranja com mamão e um sanduíche de queijo Minas quente.
Almoço
: Um lanchinho bem minguado no avião.
Jantar: Ainda no avião, frango a milanesa com purê de batata e legumes.
Na madrugada
: Sem fome.
O que ouço
: Los Hermanos de 'A a Z'!!

Vem a onda.
Ele se benze. Não é religioso, mas sempre reverencia Iemanjá, a Rainha do Mar.
A água gelada logo espalha a baixa temperatura por seu corpo.
Ele mergulha. Está só e dialoga com si próprio. Lembra quantas vezes se encontrou com o oceano. E como isso o faz se sentir bem.
Ali, não existe mais ninguém. Os banhistas ao lado são meros figurantes.

Um novo mergulho. Por um instante não há mais mágoas e frustrações. O mundo está parado e o som das águas salgadas o hipnotiza.
O nado contra a maré é a metáfora do cotidiano da vida. Nem sempre as águas são calmas, ou remam a favor dele. O exercício libera adrenalina. Uma cambalhota e uma sensação de arrepio.

As ondas que vêm são as mesmas que vão. Assim como vão os problemas.
Ele está recarregado, limpo, com o espírito pronto pra outra semana.
O mar, de fidelidade única, lá está. O espera para um novo encontro.

Desmentido

Noite de sábado, 23h41, faz um calorzinho agradável.

Café da manhã: Iogurte com Cenoura, Laranja e Mel.
Almoço
: Dois salgados (de forno) no Posto.
Jantar: Acho que agora sai a velha pizza do bairro.
Na madrugada
: A própria, requentada.
O que ouço
: Os caminhões na Avenida dos Bandeirantes.

Sempre ouvi a seguinte "verdade" (atente as aspas):
Em São Paulo, você consegue comer o que quiser, na hora que quiser. MENTIRA.
Foram quase 40 minutos de epopéia atrás de um desses deliveries famosos. Pra minha surpresa, em pleno sábado, eles só atendem até às 23 horas. Isso, na dita capital da balada e dos bons restaurantes.
A verdade escrita no início só valeu pra mim na temporada em que desfrutei os prazeres da burguesia dos Jardins. Aqui, na zona 'Sur', é bem diferente.

Que torcida é essa?

Madrugada de sábado, 03h25, clima indeterminado.

Café da manhã: rapidinho no hotel do Rio.
Almoço
: Arroz, Feijão, Farofa, Maionese e uma Carne de Panela. Na Padaria.
Jantar: Um sanduíche com filé de frango e queijo branco na Real.
Na madrugada
: O bom e velho miojo. De galinha.
O que ouço
: Chico Buarque. Na minha cabeça.

(...)
Aqui na terra tão jogando futebol,
Tem muito samba, muito choro e rock n´roll...

Ainda estou arrepiado com o Maracanã. Não tenho em estatísticas, mas 2007 ficará marcado como o ano em que mais fui ao Rio de Janeiro, sempre lindo.
Neste ano, pela primeira vez na vida, trabalhei no Fla-Flu. Pensei em escrever algo na época, porém, por algum motivo, acabei esquecendo.
Quinta-feira, na vitória do Flamengo sobre o São Paulo por 1x0, presenciei o que julgo ser o maior amor existente na relação torcida/clube.
No dia anterior, na resenha com alguns colegas jornalistas, surgiu o questionamento. Qual seria o povo (brasileiro) mais apaixonado pelo time? Gaúchos, Mineiros, Cariocas ou Paulistas?
Os cariocas, e especialmente, os flamenguistas ganham. Fácil.


Traço o seguinte paralelo: pro carioca, o clube é de fato o amor da vida dele. Ganhar um clássico, ser campeão é mais importante do que tudo. Mesmo. É ainda aquela paixão que costumamos dizer que está se extinguindo. Pra notar isso, basta olhar nos olhos de cada um. E eu olhei.
O torcedor paulista, na minha modesta opinião, é arrogante. Ele olha para o time em campo meio que dizendo "o que você tem pra me mostrar? Me convence. Será que vocês me merecem?"
O Flamengo não vai ser campeão brasileiro. Longe disso. A duras penas, vai pra Sul-Americana. Mas o torcedor rubro-negro vai se orgulhar: não perdeu pro campeão (0x0 no primeiro turno e a vitória desta semana). Ah, sim, o São Paulo não perde essa.

(...)
Mas o que eu quero lhe dizer...
Que a coisa aqui tá preta.
A Marieta manda um beijo para os seus...

Bolachas, Reflexões e Jornalismos

Noite de terça-feira, 20h07, clima indeterminado.

Café da manhã
: não deu tempo.
Almoço
: Arroz, Feijão e um Picadinho de Carne com Batata.
Jantar: (ontem) Ribs no Friday´s de Campinas.
Na madrugada
: (ontem) Spaghetti alho e óleo
O que ouço
: Paulista x Lusa, Série B do Brasileirão na Rádio Globo. Reinaldo Moreira narra, Osvaldo Pascoal comenta e Vanessa Ruiz faz as reportagens.

Enquanto tento coordenar uma mordida na bolacha água e sal e o diálogo com os pais via Nextel, uma reflexão. Ser filho de jornalistas provoca isso. Lá estamos nós falando da tão desgastada profissão.

O que é ser um jornalista hoje, dia 02 de outubro de 2007? Estou no mercado, enveredei
para a área esportiva bem no início da carreira. Foram poucos (e proveitosos) os tempos de geral, fechamento e até matérias culturais. Dentro da mesma discussão, o tema é: trabalhar em rádio. Sem qualquer demérito aos colegas radialistas, gosto de frisar que sou um jornalista trabalhando no rádio. E por que isso? Chega daquele ranço de que o rádio é um meio menor. Chega daquela convenção de que trabalhar com Esportes é algo de menor valor, se comparado a outras áreas. Grandes profissionais que cruzam (ou cruzaram) meu curto caminho, me fizeram ver o contrário.
Sem mais delongas, e voltando ao tema inicial, tento seguir a linha 'contador de histórias', mas com uma ponta de ironia. Provocar o leitor/ouvinte é sinônimo de vitória. Contar, só por contar, dá tédio.
Um exemplo: semana passada, estive no Parque São Jorge acompanhando a apresentação do técnico Nelsinho Batista. Com um discurso otimista, ele falava em conquistar uma vaga na Sul-Americana e não em livrar-se do rebaixamento, como todos ali imaginávamos. Eis minha interpretação, redigida e narrada na Rádio Eldorado/ESPN: Nos cálculos do novo técnico, a equipe precisa de 21 pontos para não só livrar-se do descenso, mas também alcançar uma vaga na Copa Sul-Americana. Ou seja, o time que até então em 27 jogos venceu apenas oito precisaria de sete vitórias nos 11 que faltam.
Ironia?

Dizem que homens não conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo, né? Eis que me pego quase mordendo o Nextel enquanto tento me comunicar via bolacha. Haja coordenação.