O sapato

Quando ouvia passos duros, invejava.

Naquele tempo, o barulho do sapato no chão representava seriedade.
Logo que ouvia, sabia que alguém mais velho, mais sábio, mais maduro, se dirigia.

Não sei o motivo da associação, só sei que quando eu andava não fazia esse barulho.
Vez ou outra tinha a formatura, aí o traje social era obrigatório.

Eu caminhava pra lá e pra cá feito um homem. Hoje percebo que aquele passo era rumo a maturidade. Por isso tinha som.

Hoje, mesmo com tênis de corrida, com o chinelo da folga, os passos são ouvidos.

Me dei conta que cresci.

Numa madrugada qualquer

Tanto pra dizer e nenhuma palavra dita. Um amor que não sabe se existe.
Palavras e atitudes ocultadas por uma certeza incerta de que um dia serão ditas.
Mas e som do silencio?
Não pertenço a esse mundo, apesar das medidas ideais.
Não?
E esse outro lado? Cheio de fantasia e ideias do que se sonharia viver...
Posso ir? Já foi. Ele me mostrou.
E o som do silencio que fala mais alto agora.